Dossiê do SAMU: Precarização que consome vidas

Após denúncias constantes, Veradora Luma Menezes buscou respostas in loco e reporta a má administração do órgão. Do sucateamento de ambulâncias a ratos.

Contexto

O SAMU é um serviço gratuito que, sob o princípio da universalidade do SUS, deveria atender todos os cidadãos em tempo ágil. Infelizmente, esse princípio básico não alcançava moradores rurais de Alagoinhas, por conta das péssimas condições da ambulância que operou no município sozinha até dezembro de 2022. No mesmo ano, Luma usou sua palavra na tribuna para denunciar o caso de uma senhora que aguardou inacreditáveis 5h de espera por atendimento, por conta da impossibilidade da única ambulância passar por estradas. Relembre:

Além deste caso que não era isolado, 1 ano antes, os colegas de parlamento, Thor de Ninha (PT), Juci Cardoso (PCdoB), Luciano Almeida (União) e Jaldice Nunes (União) indagaram à Prefeitura sobre o descarte de diversas ambulâncias, algumas delas do SAMU. Após a denúncia, todas apareceram queimadas, sem placas, chassi ou qualquer forma de rastrear a origem e o motivo do descarte das mesmas.

Quando tais ambulâncias foram queimadas, ainda em 2021, o Município ainda não sabia a proporção que tomaria o desgaste. Naquela época, Alagoinhas ainda possuia 3 ambulâncias do SAMU, sendo duas de atendimento básico e uma para atendimento avançado. A proporção era adequada, segundo a portaria PORTARIA Nº 1.864 do Ministério da Saúde.

Com toda essa informação, Luma foi ao SAMU acompanhada de assessores em fevereiro para saber qual era o motivo de tantos problemas. Aqui contaremos para você o que foi encontrado.

Quartel-General

Alagoinhas é a cidade-sede da região de saúde que inclui outras cidades. Isto é: O SAMU do nordeste do estado é coordenado por Alagoinhas, atendendo a uma população de mais de 575 mil habitantes. Diante de tamanha responsabilidade com cidadãos de diversos municípios que telefonam para a central alagoinhense, esta deveria estar em perfeitas condições para atender os chamados. Deveria…

Atendimento

O tempo entre desligar o telefone e a chegada da ambulância na residência não deve ser superior a 10 min, palavra da Associação Brasileira de Resgate e Salvamento. Infelizmente, como relatado por Luma, cidadãos dos distritos de Alagoinhas (cidade que deveria ser modelo do atendimento da região) ficaram desassistidos por conta da negligência da Prefeitura.

Durante sua visita à unidade, servidores confirmaram que, por muito tempo, precisaram responder a telefonemas vindos da Zona Rural, que a cidade não tinha condições de enviar uma ambulância. O motivo? A única que estava em operação, a de atendimento avançado, estava sem manutenção em dia, e por isso, correria o risco de quebrar na viagem. Para tentar contornar a situação, os servidores repassavam o chamado para outras cidades, motivo pelo qual o relato feito acima afirmou que o atendimento ocorreu apenas 5 horas depois.

Além da falta de atendimento longe do Centro, um servidor também confirmou que apenas casos que considerassem gravíssimos eram atendidos. O motivo era o temor de enviar a única ambulância (avançada) disponível, e assim, perderem a possibilidade de atender alguém que necessitasse ainda mais do equipamento.

Manutenção

Cada veículo custa no mínimo R$153 mil reais, esse investimento pode ser jogado fora se o equipamento não for mantido com o cuidado adequado. Cuidado esse que seria uma manutenção preventiva, para evitar o desgaste antecipado, mas “A gente não tem uma manutenção preventiva”, foi o que disse um servidor angustiado ao falar do estado dos veículos.

Sem previnir os problemas, resta corrigí-los quando surgem, porém “É a mesma coisa que nada, porque a oficina não está suprindo”, afirmou o mesmo servidor, que indicou que as ambulâncias voltavam com os mesmos problemas.

Diante da falta de manutenção, o desgaste reduz a vida útil da ambulância que precisa ser aposentada, e outra ser comprada no lugar, o que é muito mais caro do que cuidar das que já se têm. Atualmente, duas atendem Alagoinhas, uma unidade básica e uma avançada.

“Crônica” foi a palavra usada para se referir à única ambulância básica que atende Alagoinhas no momento. O relato que seguia chocou, pois a ambulância em si, nem mesmo pertencia à Alagoinhas, ela foi cedida por Catu porque as viaturas básicas municipais não estão em condições apropriadas. A mesma ambulância confiada para a Prefeitura “Não aguenta ficar o plantão de 24h”.

“Essas queixas da população procedem mesmo. E a maioria das vezes é por isso: Falta de manutenção adequada”.

“As ambulâncias estavam com problema de pneu, de direção, vazamento de óleo, às vezes abria a porta traseira se você andasse num lugar que tem muito buraco”.

Instalações

Os servidores ouvidos durante a fiscalização de Luma não pouparam críticas às condições de conservação do prédio. A primeira reclamação foi referente à escada que dá acesso à sala de descanso dos plantonistas. Esta escada exposta à chuva não possui corrimão ou fitas anti-derrapantes, sujeitando a quedas, os socorristas que precisam correr nela para atender as ocorrências. Também há preocupação quanto às idosas que trabalham no local.

Ainda sobre a estrutura, o dormitório masculino tem infiltrações quando chove pela má instalação do forro e ambos, masculino e feminino, não têm seus colchões trocados há 3 anos. Alguns dos colchões já se encontram rasgados.

Certamente, o pior dos problemas estruturais, foi a presença de ratos . Os animais fizeram um ninho dentro da sede e já são presença frequente por lá.

“Com relação à material, esses materiais pequenos que quebram e não tem para repor….”

Alimentação

“A alimentação é de péssima qualidade, às vezes vem cabelo, até inseto já foi encontrado dentro”, desabafou um servidor. A partir desta reclamação, foi relatado que a empresa fornecedora do alimento não disponibiliza alternativas para quem tem restrições alimentares. A Prefeitura não oferece pagamento em pecúnia para estes servidores com restrições, que se tornam reféns, uma vez que ao relatarem o problema, não recebem nenhuma resposta ou solução.

Infraestrutura da cidade

Os males que afetam o SAMU não se limitam aos muros da unidade, uma vez que a quantidade de buracos pela cidade somados com a falta de manutenção preventiva, arruínam os pneus, amortecedores e a direção dos veículos que precisam trafegar em alta velocidade.

A moto

Para casos graves em que o atendimento precisa ser ainda mais rápido, o SAMU dispõe de uma moto que, à frente da ambulância, dribla o trânsito para prestar um atendimeno antes da retirada dos socorridos. A questão é que essa frase nunca se concretizou. Alagoinhas tem uma “motolância” há pelo menos 13 anos sem funcionar, apenas ocupando espaço e se desgastando com o tempo.

A unidade nunca saiu da garagem do SAMU, nem mesmo durante os mais críticos meses de ineficiência das ambulâncias. O motivo é que para utilizá-la, é necessário uma preparação e contratação específica, que nunca foi buscada pela Prefeitura.

Falta 1

Alagoinhas deveria ter 3 ambulâncias disponíveis para socorrer os munícipes, atualmente só tem 2, sendo 1 delas cedida de Catu. A terceira que deveria estar à disposição em em 04 de fevereiro, se encontrava em manutenção corretiva ainda no dia 8 do mês seguinte. Porém, mesmo que retornasse, ficaria parada na garagem pela falta de equipamentos básicos, dentre eles um manômetro e um monitor de sinais vitais.

Omissão

Todos os problemas citados nesta reportagem, segundo os servidores, são de conhecimento da gestão, mas todos são disfunções persistentes dentro da unidade.

Respostas

Leia na íntegra o que foi dito pela Prefeitura sobre as ambulâncias quando foi cobrada via LAI e a imensa relação de peças que são trocadas somente quando as viaturas perdem a possibilidade de atendimento, uma vez que não passam por manutenção preventiva.

Guilherme Bitencourt para ASCOM – Luma Menezes

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