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Para celebrar o Dia Nacional da Visibilidade Trans, e ampliar vozes, cedemos espaço nas nossas redes para a comunidade T.

No dia 29 de janeiro celebramos o Dia Nacional da Visibilidade Trans, instituído em 2004 com a campanha ‘Travesti e Respeito’, que marcou um marco histórico na luta pela cidadania e direitos das pessoas trans, incluindo travestis, pessoas transgênero e não-binárias.

Mas o que seria cada um desses adjetivos? Primeiro, é preciso entender o que significa a identidade de gênero. Apesar do que era consenso anteriormente, hoje reconhecemos que não existem apenas 2 identidades de gênero fixas, homem e mulher. Essa identidade é como a pessoa se reconhece e como a sociedade a observa.

Logo, uma pessoa transgênero é aquela que não se reconhece com o gênero atribuído ao nascer. Por exemplo, a pessoa pode ter sido definida como mulher e identificar-se como um homem, assim como o inverso. No caso das pessoas não-binárias, elas não se identificam nem como homem e nem como mulher. Pensar nisso fica mais fácil com a imagem a seguir:

Infográfico apresentando uma visão binária de gênero e uma gradativa das suas identidades.
Infográfico apresentando uma visão binária de gênero e uma gradativa das suas identidades. Note que o segundo exemplo se expande ainda além do gradiente.

Na verdade, não-binária é um termo guarda-chuva para se referir a diversas identidades deste espectro, inclusive a de pessoas travestis, que eram equivocadamente definidas como “homens que se vestem de mulher”, principalmente na década de 60. Atualmente, as pessoas travestis, com mais liberdade em se expressar, definem-se como uma identidade não-binária feminina. Portanto, não se observam necessariamente como mulheres, muito menos homens, mas dentro do espectro de gênero, estão em algum grau da ala feminina.

Também é importante citar que as identidades de gênero são definições culturais. Utilizando novamente as travestis (lembre-se de sempre se referir a elas no feminino), esta identidade é encontrada apenas na América Latina, pois a palavra nasceu aqui. Também há identidades exclusivamente indígenas, tendo em vista que os papéis binários de gênero vieram com a colonização. Um dos mais curiosos registros foi do jesuíta Pero Correia. Segundo ele, havia “mulheres que, assim nas armas como em todas as outras coisas, seguem ofício de homens e têm outras mulheres com quem são casadas. A maior injúria que lhes podem fazer é chamá-las mulheres”.

Finalmente, para valorizar este dia, convidamos 2 jovens trans que empreendem em Alagoinhas. Dessa forma, chamamos a sociedade a conhecer suas vivências, apoiar seus negócios, e a acolher suas identidades.

Mahu Valeriano

Mahu tem 23 anos, orgulho de sua identidade travesti e natalidade na cidade de Arapiraca – AL. Desde 2020, ela desenvolve a Lojinha da Mahu (clique para conhecer). Seus principais produtos são meias, panos de prato e produtos manufaturados por ela ou por sua mãe.

A Lojinha da Mahu não tem local fixo. Além do atendimento virtual, ela normalmente vende na Rua Prof. Alcindo Camargo, em frente ao Rincão Gaúcho. Contudo, ela também já participou da Feira das Juventudes Empreendedoras. E segundo seu relato, “se ocorrer de novo, sim, eu pretendo participar, porque é sempre bom alcançar novos espaços para impulsionar o nosso negócio, criar uma rede de contatos, seja de clientes ou parceiros“.

Pedimos que ela compartilhasse um pouco de sua história, começando pelo momento em que se reconheceu como uma pessoa trans. Mahu apontou que foi logo na infância, momento em que se reconhecia como diferente, a partir de então, O mundo vai nos apontando, vai nos segregando, vai nos violentando (…) e vai nos nomeando.

As perguntas invasivas à sua privacidade, comentários e olhares reprovadores à sua existência são constantes e têm origem no conforto que as pessoas sentem por imaginarem que têm legitimidade para constrangê-la e interrogá-la. Mesmo calada (a pessoa trans), o corpo dela grita, Explicou Mahu, para afirmar que não é possível esconder-se da violência.

E continuou: “Qual é o imaginário da sociedade, o imaginário popular de ser travesti? (…) É a pessoa que vive com HIV, é ladra, é marginal. Então se entender como travesti também é essa retomada dessa palavra nesse sentido de tirar dessa conotação negativa (…) E eu acho que se armar do conhecimento, da história das pessoas que vieram antes de mim, das pessoas que eram como eu, que lutaram para que eu tivesse mais direitos”.

Para finalizar sua participação, Mahu respondeu à pergunta: Se você pudesse propor uma lei, o que seria?
“Seria dar um acesso digno à hormonização, acesso ao endocrinologista, ou facilitar mais esse acesso a Salvador, que tem os ambulatórios trans (…) Eu acho importantíssimo a Casa de Acolhimento porque a situação da maioria dos travestis em que Alagoinhas é a prostituição, sabe? Então é algo fundamental para tirar esses corpos da marginalidade”.

Caeu Filipe

Assim como Mahu, Filipe não nasceu em Alagoinhas, mas sim em Salvador, em 2003. Contudo foi aqui onde ele criou a sua própria marca de roupas e acessórios, a SVR (clique para conhecer). Seu portfólio é focado no estilo streetwear com estampas autorais.

Filipe conta que sempre teve afinidade com vendas, desde antes da criação da SVR, em 2022: “A gente construiu nossa casa vendendo geladinho. “Eu já trabalhei com fotografia para justamente comprar roupa, porque eu tinha acabado de transicionar. E acontece que minha mãe não me aceitava, então eu falei ‘vou trabalhar e eu mesmo vou comprar minhas roupas'”.

Sobre as dificuldades da transição, Filipe falou que pessoas preconceituosas são encontradas em todos os ambientes, principalmente na escola. Essa realidade nutre a grande evasão escolar de pessoas trans. E ponderou: “Com o tempo, as cores ficam claras. Sabe que você não precisa ser homem e ter um comportamento machista para ser homem, não precisa seguir essa masculinidade tóxica, sabe? (…) Eu acho que tem vários jeitos de ser homem e como eu disse eu estou muito feliz com o meu”.

Para ele, a principal solução é a representatividade em espaços como universidades e posições de prestígio. O exemplo dado foi da cantora Liniker, ganhadora do Grammy, que serve como referência de que pessoas trans têm vez fora da marginalidade.

Apresentado a algumas das ações do mandato voltadas à comunidade LGBT, Caeu disse que é gratificante que haja alguém ouvindo e pensando na comunidade. “É muito importante ter alguém que queira fazer algo pela gente que queira ouvir. Eu já vi ela em algumas reuniões sobre pessoas LGBT, sobre pessoas trans”. O que apesar de positivo, ele deixou claro que é essencial que esses lugares também devem ter a representação direta das pessoas trans: “A gente precisa ver que a gente pode estar todos os locais, que os locais são para a gente, e que a gente não precisa ficar acuado”.

O que o mandato fez pelas pessoas trans?

Durante os 4 anos do seu primeiro mandato, a vereadora Luma Menezes apresentou 2 pedidos de informação, 2 projetos de lei e 1 indicação. Ressaltamos que os pedidos de informação tratam do Núcleo de Apoio à Comunidade LGBTQIA+. A medida estava prevista no Plano Plurianual que expirou em dezembro de 2024, sem que fosse implementada pela Prefeitura. Conheça o que mais abordamos abaixo:

  1. Pedidos de informação;
    • Requer o detalhamento acerca da ação “Implantação do Núcleo de Apoio à Comunidade LGBTQIA+” prevista no Plano Plurianual.
    • Solicito o detalhamento acerca da ação “Implantação do Núcleo de Apoio à Comunidade LGBTQIA+” prevista no Plano Plurianual.
  2. Projetos de Lei;
    • Projeto de lei nᵒ 037/2024 – Institui o dia 17 de maio como o dia municipal de combate à LGBT-fobia.
    • Lei Municipal nᵒ 2.744/2024 “Dispõe sobre a fixação de placas informativas em estabelecimentos privados e públicos proibindo a discriminação em razão de orientação sexual ou identidade de gênero”.
  3. Indicação;
  4. Destinação de emendas.
    • Destinei emendas para o primeiro Arraiá da Diversidade em 2023.
    • Destinei emendas para o evento Celebrando a diversidade, iniciativa do Coletivo LGBTQIAPN+, em 2024.

ASCOM – Luma Menezes.

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Luma Menezes
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